quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Contando um conto... ou simplesmente conversando com crianças

Hoje venho falar especificamente sobre um tema de especial interesse, meu e creio que de muitos pais, educadores e entusiastas da educação: a leitura.

Quem aqui se lembra da época em que foi alfabetizado? Eu me lembro muito bem do "Ivo viu a uva" e de outras frases da cartilha que não faziam muito sentido pra mim, mas que tínhamos que ler. Quem também não se lembra de repetir 1001 vezes a grafia da mesma letra, cobrindo as letras pontilhadas com lápis, barbante, arroz, feijão, macarrão e metade da dispensa de casa?




Durante um tempo as habilidades de ler e escrever foram pensadas somente como fruto de processos motores e perceptuais, em que quanto mais a criança repetisse o movimento da letra e mais fosse exposta à grafia das palavras, mais eficaz seria o seu aprendizado. Porém, aprender a ler e escrever é difícil para os aprendizes,  necessitando de uma série de outras habilidades, o que faz com que a criança tenha que se esforçar ainda mais nesse processo.

Existem formas, antes mesmo do ingresso na alfabetização, de favorecer o desenvolvimento de competências orais que serão importantes para toda a vida e que são fundamentais para o desenvolvimento da linguagem escrita.

Mas então, eis que surge a pergunta: "Ué, mas a gente não aprende a falar normalmente? Como é que eu posso estimular ainda mais essa criança que já é uma tagarela?".

Bem, a não ser que a criança tenha algum impasse no desenvolvimento da linguagem oral como, por exemplo, no caso dos transtornos invasivos do desenvolvimento, as crianças aprendem a falar e muitas vezes nos surpreendem com palavras e  frases inusitadas. Porém, aprender a contar histórias, debater sobre pontos de vista ou até mesmo compreender as histórias contadas por outras pessoas, por exemplo, podem (e devem!) ser estimulados fora da escola, dentro de casa.

Solicitar que uma criança conte sobre o seu dia, por exemplo, é uma forma de estimular a narrativa oral. Ou ainda podemos pedir para que a criança nos conte sobre algum desenho que assistiu, estimulando-a a pensar sobre os personagens da história, a relacionar ideias e pensar sobre o encadeamento dos acontecimentos da história. Quando contarmos uma história, podemos também fazer perguntas sobre a mesma, pedindo à criança para que nos diga quem são os personagens, descrevendo as cenas que aconteceram, a ideia central da historinha e muitas outras coisas... e isso pode ser feito não só com narrativas, mas também com outros gêneros textuais. E claro, usando bastante a criatividade para dar sequência à brincadeira e ser bem divertido para você e para a criança!

Enfim, estimular crianças a expressarem suas ideias, formularem perguntas e a refletir sobre o que contamos a elas são formas de desenvolver habilidades orais que contribuirão posteriormente para as habilidades de leitura, escrita e até mesmo nossas práticas orais na vida adulta. Até mesmo nossa habilidade de expor nossas ideias no trabalho, contrapor ideias quando não estamos de acordo e tantas outras práticas da nossa vida tem um pezinho lá atrás, em casa, na sala de aula ou em outros ambientes que foram estimulantes.

E você, já brincou de conversar, contar histórias e afins para uma criança hoje?





Para saber mais:

Brandão, A. C. P. & Leal, T. F. (2005). Em busca da construção de sentidos: o trabalho de leitura e produção de textos na alfabetização. Em A.C.P Brandão e E.C.S Rosa. (Orgs). Leitura e produção de textos na alfabetização. (pp 27-43). Belo Horizonte: Autêntica.
(disponível aqui)

Soares, M. (1998). Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica.