domingo, 28 de agosto de 2011

O Psicólogo Hospitalar e os familiares


No tempo em que trabalho no Hospital Estadual Albert Schweitzer (hospital geral de grande porte, localizado na Zona Oeste do Rio de Janeiro), muitas das coisas que atravessam meu caminho, enquanto estou nas diversas clínicas e corredores, chamam minha atenção. Um grupo especial é bem marcante, e é sobre ele que venho falar: o familiar

É comum ouvir pelo hospital que "familiar atrapalha o trabalho", e muitas vezes eles atrapalham sim! E geralmente é com suas dúvidas sobre o diagnóstico e seus questionamentos sobre o tratamento que está sendo realizado naquele outro que o familiar tanto ama. Muitas vezes, é na fala desses familiares que percebemos os nossos erros. Perceber incomoda, claro, mas também serve para repensarmos nosso trabalho e, quem sabe, fazermos diferente.


É na escuta destes familiares, que percebemos o adoecer junto com o outro. Quando escutamos a mãe, cujo o filho, ainda criança, foi queimado ao brincar com o fogo falar "eu não vi como isso aconteceu" ou "eu deveria estar lá, mas não estava", ou a mãe de um traficante que foi alvejado por policiais, falar "não sei o que fiz de errado na criação dele". Ou quando o familiar, na função de acompanhante, deixa de comer, pois o enfermo está de dieta zero, e o acompanha na fome antes de um procedimento, extremando o sentido de acompanhar. Quando deixa-se de ter qualquer contato com o mundo para além do hospital, e passa-se dias e noites em uma cadeira, à beira do leito a espera de alguma melhora. Ou mesmo o não dito, que percebemos no choro, em um suspiro ou olhar.

O psicólogo hospitalar se depara com situações como esta a todo momento, e tem a difícil tarefa de ajudar o paciente e seus familiares a passarem pela experiência do adoecimento da melhor forma possível. Ao serem também tomados pela dor e angústia vivida pelo doente, é fundamental que esses familiares possam falar sobre seus sentimentos, para que consigam melhor enfrentar a situação. Neste momento, é dever do psicólogo oferecer uma escuta atenta e sensível às questões trazidas pelo familiar, para que este possa simbolizar suas angústias e melhor enfrentar quaisquer sentimentos de culpa e impotência que existam diante da situação de hospitalização.

Agindo desta forma, o psicólogo estará reforçando os vínculos familiares, da família com a equipe de saúde, bem como marcando sua importância dentro da instituição hospitalar.